Templo Positivista de Porto Alegre
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Positivismo. Religião da Humanidade. Auguste Comte. Culto dominical. Porto Alegre. Rio Grande do Sul
Positivismo
Apenas uma frase em mais um prédio histórico na capital do Sul do Brasil? Ao lado, o Parque da Redenção lembra que tudo ao redor tem algum significado na história do povo do Rio Grande: uma área verde que celebra revoluções e clamores políticos, esquinas onde a boemia e a filosofia se encontraram para repensar Brasis.
“Os vivos são sempre cada vez mais governados necessariamente pelos mortos”
Fachada do Templo Positivista em Porto Alegre
Ali na Avenida João Pessoa, a fachada data do século XX e traz pensamentos de tempos antes desse passado edificado. O Templo Positivista de Porto Alegre é um dos poucos remanescentes dessa religião fundada pelo filósofo Auguste Comte na França e no século XIX. São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Paris são os endereços ainda vivos dessa sua visão de fé.
A grande inovação do pensador foi desassociar religião e teologia: no centro dessa Religião da Humanidade está mesmo é o homem. Deus e seres fantásticos não são considerados num olhar de quem acredita que as pessoas, seus familiares e antepassados - como também aqueles que se destacam em um grupo - são os responsáveis por tudo, inclusive o que é inexplicável, que acontece em suas vidas.
Uma fé racional e concreta foi por Auguste apresentada como proposta de estudo e evolução da humanidade: mais vale aprender, compartilhar, cuidar. O conhecimento, com destaque para a história, a antropologia e a sociologia, são as fontes de consulta e amadurecimento tanto de uma pessoa como de uma sociedade. Estudar é o principal caminho para a preparação de um homem de forma ética e altruísta: palavra essa criada pelo próprio Comte.
“Se você precisar passar numa prova,
você não vai acender uma vela,
você vai estudar!”
Érlon Jacques de Oliveira, Guardião do Templo Positivista em Porto Alegre
A ética valorizada é a do trabalho e esforço, o que é também coerente com o lema Positivista: "O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim". Foi dessa crença e sentença que surgiram as linhas que hoje bordam as palavras Ordem e Progresso na Bandeira do Brasil: inspirados por esse pensamento, líderes brasileiros lutaram pela Proclamação da República em 1889 e cristalizaram essa intenção de evolução em um dos principais símbolos do país.
O Positivismo no Brasil é também relacionado a movimentos importantes da história do povo como a abolição da escravatura e a separação da religião e do estado. A religião universal - já que traz aprendizados de diversas culturas - adentrou o país por meio de intelectuais que buscavam um sistema moral e científico para balizar as suas vidas. No século XIX, sussurros positivos eram espalhados por conversas de negócios e salões de festas e ajudavam a criar estrutura e fluidez para os movimentos de uma elite que clamava pela reconstrução da nação.
“A razão existe para servir à emoção”
Érlon Jacques de Oliveira, Guardião do Templo Positivista em Porto Alegre
Mas se a Ordem e o Progresso fazem parte da ética Positivista, ela se inicia é pelo Amor. O “Viver para Outrem” ou altruísmo é o princípio básico dessa filosofia que coloca o semelhante próximo - e não um Deus distante - no centro de qualquer escolha humana. Aprender a conviver e fazer bem ao outro são os principais motivos para tanto estudo.
E estar junto é também razão de sobrevivência de uma casa e ritual que pulsam histórias. É pelo esmero e dedicação de guardiões como Érlon Jacques que a filosofia se mantém chama viva dentro das paredes de um prédio que tem mais valores do que um tombamento arquitetônico poderia supor. Aos domingos, às dez horas da manhã, parentes e amigos e vizinhos vão revisitar as bases para o progresso da sociedade, mas principalmente, vão perceber - entre olhares e abraços - como cuidar bem uns dos outros.