Povo Huni Kuin
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Povo Huni Kuin. Povo Kaxinawá. Guardiões Huni Kuin. Ritual no Rio de Janeiro. Acre. População de 11.000 Huni Kuin
Povo Huni Kuin
Anciãos andando sozinhos, durante noites escuras, no meio da selva: não procuram sinais de animais para caçar, não foram levados pela necessidade de encontrar sementes ou ervas medicinais… Vagam perto de barrancos, de lagos e árvores.
“Nós somos um pequeno Deus”
Ixã Virgulino Sales
Andam à disposição do yuxin: a força vital que está em tudo que é vivo na terra, nas águas e nos céus; na sua visão de mundo - ou yunxidade - não há relação entre espiritual e sobrenatural. Os animais são também Huni Kuins, encantados, que transmitem às pessoas um bem ou saber: foi o esquilo quem ensinou o homem a plantar, o macaco- prego foi quem nos ensinou a copular.
E é o yuxin que escolhe quem pode ser xamã: ao Huni Kuin só cabe mostra-se para a natureza. Quando pegos, os homens aparentam um tipo específico de doença: ficam atrás de mulheres! E passam por uma preparação que envolve dias dormindo na floresta.
O Xamanismo é uma prática definidora do modo de vida do povo que pelos colonizadores foi chamado Kaxinawá: pertencentes à família linguística Pano, são hoje cerca de onze mil indígenas que moram em terras da Amazônia Ocidental na fronteira entre Brasil e Peru. A estrutura social é organizada principalmente pela divisão de tarefas cotidianas por gênero: num dia simples, as mulheres são responsáveis por lavar roupas, cuidar dos filhos e preparar comidas; os homens saem para caçar. No roçado, somente o plantio de amendoim é uma prática comum entre ambos.
As mulheres são as únicas que podem fazer pinturas corporais com jenipapo, uma das principais marcas identitárias de um povo que é conhecido por seu Kene Kuin: o desenho verdadeiro. Para eles, o desenho é uma camada de beleza nas pessoas e nas coisas e é recebido em mirações compostas por imagens sofisticadas formadas por fundo e figura e com relações entre yuxin e homens.
Apesar de o pensamento xamânico ser algo onipresente e indissociável à cultura, eles afirmam que os verdadeiros xamãs morreram todos: há algo de mistério ou discrição sobre a prática de curar e causar doenças. Diferente de outros grupos amazônicos, todos podem ver o mundo do cipó através do consumo ritualístico do chá Ayahuasca e os Guardiões da Floresta inclusive aceitam chamados para compartilhar essa fonte de força e autoconhecimento viajando para outras cidades e estados brasileiros para realizar rituais: é que o mundo anda precisando!
“O trabalho espiritual é como se fosse o de um médico”
Ixã Virgulino Sales
Antes dos rituais, o rapé é compartilhado para abrir caminhos e harmonizar corpos. Os cantos iniciais são também de abertura: convites aos Huni Kuins encantados - os animais da floresta - para participarem com seus ensinamentos e despertar da floresta.
As mirações chegam em imagens coloridas em que uma outra camada de realidade é sobreposta e a música passa a ter um papel primordial: dita o volume também da força a ser construída internamente e ao redor de todos. Se a intensidade é demasiada, as canções devem acalmar os fluxos… se for necessário aprofundar ou acelerar, os tons e ritmos também se alternam.
Mais que seus cocares e pulseiras, o povo Huni Kuin desloca naturezas em busca de pessoas que querem se encontrar. Se da cidade ou da aldeia, não importa... na regência do cipó, todos são mesmo floresta.
“Essa medicina é como se fosse a Internet Huni Kuin,
Estão todos descobrindo que também podemos ensinar conexão”Ixã Virgulino Sales