Pedro de Oxum

As ruelas são simples anunciando caminhos interiores de Brasil. Na região de Codó, cidade do Terecô no Maranhão, fachadas de casas são da cor da terra e o acabamento é o cotidiano. Crianças brincam nas ruas, sinos fazem o compasso da música ambiente: encantados que chegam para conversar a cada tanto, para cantar as suas ladainhas e conselhos para quem busca fé.

Em uma daquelas singelas residências, mora um homem que leva consigo duas mulheres. Pedro de Oxum tinha nove anos de idade quando recebeu as entidades pela primeira vez: sentiu como se os pés tivessem fora do chão, em um lugar entre o ontem e o amanhã que não desenharam nos mapas. Gritava e chorava nos primeiros transes, mas nunca teve medo ou escolha: difícil mesmo era conseguir explicar para todo o povo o que só ele conseguia ver.

"O feitiço é como um vento: você sente.”

 Pedro de Oxum

Com o passar dos anos, Pedro percebeu que ter a companhia de Chica Baiana e Dona Maria Padilha era um sinal de quão abençoado é: um homem precisa ter muita luz para ser a voz de duas mulheres fortes enquanto vive. O tempo foi passando e ele começou a preparar sua casa para receber as suas donas. Fortaleceu sua fé, montou os quartos e altares para abrir os caminhos quando elas querem chegar, escolheu as roupas que elas gostam de vestir, aceitou a ajuda dos que estão ao seu redor. Fez dos seus dias a cenografia de Chica e Maria.  

No quarto de cada uma, mulheres de personalidades e feituras muito diferentes, Pedro reza, prepara suas velas, toca as maracas que são o instrumento de conexão entre ele e as divinas entidades.

"Quem pode mais do que Deus?

Ninguém."

Oração de pergunta-resposta em atendimento de incorporação

Para receber os conselhos de Chica Baiana e Dona Maria Padilha, é preciso agendar com alguma antecedência. É que Pedro aprendeu novo que não pode misturar sua agenda com a delas: tudo precisa ser organizado para a energia fluir. Humilde e doce, o homem se faz passagem e aceita em troca qualquer contribuição que os visitantes possam deixar: sua moeda preferida é espalhar a felicidade.

Chica é da linha da família Baia e da linhagem dos turcos do Terecô, por isso baiana, e vem de amarelo-ouro das matas encantadas para onde for chamada. Alegre, sincera, mulher que trabalha muito até conseguir o que for preciso. Ela pede cachaça, pede fumo, traz risadas.

"Teresa bebe cachaça na boca do garrafão

Teresa é cabôca, Teresa não é mole, não."

Canção de louvação em ritual de incorporação por Pedro de Oxum

Dona Maria Padilha é rainha que veio da Espanha, mulher sedutora que gosta de vermelho e que é tão encantada quanto encantadora. Sua história vem relacionada à conquista de desejos e amores, manhosa e jeitosa que só ela sabe ser: é Exu, é Pomba-Gira. Ela é tudo que ela quiser.

"Maria Padilha, eu preciso de vocë

Para jogar o jogo do amarelinha

Se eu perder, você me ganha

Se eu ganhar, você é minha."

Canção de louvação durante incorporação no Terecô de Codó

Velas acesas, Pedro de Oxum é então uma tessitura que se coloca à disposição para ser preenchido pela tramas de Chica Baiana e Dona Maria Padilha. Velas apagadas, Pedro de Oxum é só mais um nordestino dos porretas: um dos tantos homens de interior de Brasil que sabe que uma batida à porta é sempre uma oportunidade para doar amor e esperança.