Álbum
Fraternidade Kayman
Em plural, somos, como a vida. Irmãos que se encontram para dançar e exacerbar fés, as tantas que são caminhos esparramados entre nós por um único Deus. As fontes de energia se aproximam e ajudam cada um a se alinhar e a brilhar.
No chão da casa principal do terreno localizado em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, a estrela de seis pontas - e de Davi - lembra que o endereço é de Umbanda. O Daime chega pelo chá no início dos encontros: força e autoconhecimento que satura cada fonte interna de evolução. Altares com imagens de Santos e Orixás e Encantados. Cirurgias conduzidas por espíritos de uma irmandade de luz branca. Dança - psicografia - Temazcal. Aliança entre todas as linhas de fé com a intenção de reproduzir em uma fraternidade o encontro de energias que é o próprio Brasil.
“O princípio de tudo é a música"
Robespierry Caetano, fundador da Fraternidade Kayman
Kayman: um metro e vinte de altura, cabeça bem grande. Uma entidade intraterra que já era vista por Pierry quando ele era ainda menino, com cerca de cinco anos. Talvez o primeiro Encantado que o homem nascido em família católica no interior do Goiás percebeu. Foi também nessa idade que o médium conheceu Pai João de Aruanda, seu mentor que o ajuda no caminho espiritual. Foi considerado doente, internado algumas vezes como louco, e somente aos 21 anos e após conhecer Chico Xavier que Pierry abriu sua primeira casa de Umbanda.
“Acreditar em Deus é ter intimidade com ele"
Robespierry Caetano, fundador da Fraternidade Kayman
Foram muitos trabalhos nessa linha até que Pierry começou a sentir-se triste e desmotivado. Mais uma vez, Pai João ajudou-lhe a abrir os caminhos: seu conselho foi convidar alguns companheiros para realizar um trabalho de Daime.
Na visão do trabalho sugerido pelo Preto Velho que encarnou pela última vez por volta de 1700 em África, o Sol lhe convidou a cultivar o cipó Mariri e a preparar e oferecer o Daime em seus rituais que poderiam ser cada vez mais abertos e híbridos.
“O importante é que haja amor no coração,
e disciplina"
Robespierry Caetano, fundador da Fraternidade Kayman
Sete meses após a miração, Pierry fundou em 2002 a Fraternidade Kayman. O médium - que recebe espíritos de forma consciente e inconsciente - está bem acompanhado: Pai João de Aruanda é também mentor espiritual da casa, o chefe do terreiro é Ogum Guerreiro, Tranca Ruas é a entidade protetora. E os espíritos da linha branca, como o Dr. Lazarino que encarnou pela última vez no México, são os cirurgiões espirituais da casa. Com mais de quartenta anos de idade, Robespierry abre as portas da Kayman para quantos rituais puderem pulsar dentro.
O Feitio do chá da Ayahuasca presente em quase todas as celebrações já é marcada por uma ritualística tão poética quanto espontânea: o macerar o cipó do Mariri lembra que na labuta cotidiana da gente simples brasileira há disciplina, magia e fé.
Semanalmente, acontecem as Giras de Cura: do preconceito, da inveja, dos medos… de tudo que é fonte de doenças para o corpo e para a alma. Pele coberta de branco, o Pai-Nosso que está nos céus de Jesus é também presente em forma de oração, o Daime abre o ritual.
Folhas defumadas marcam o trabalho de Umbandaime que chama por Oxóssi, o senhor das matas se apresenta e em lusco-dança-fusco, as várias entidades se manifestam em pessoas a tremer. Imposição de mãos e corpos deitados em macas: chegam os doutores de outros tempos passando pelos médiuns de agora, são as cirurgias espirituais.
“O encontro com o Sagrado
é o encontro com a natureza"
Adriano Bitaraes, cerimonialista do Temazcal na Fraternidade Kayman
A Cerimônia de Encantaria foi recebida em miração por Adriano Biataraes, um espiritualista que encontrou espaço na Kayman para desenvolver suas linhas de trabalho. Com os xamãs das florestas do Norte do Brasil, aprendeu a observar a presença e a chegada dos seres Encantados: são animais, bichos fantásticos ou já conhecidos por nós, com formas definidas ou somente com habilidades mágicas percebidas... Na fraternidade, a conexão com o Sagrado acontece por meio da dança que - com o poder do Daime - ajuda a despertar o encantamento que dorme dentro de cada pessoa. Um colírio de origem indígena e feito com raízes de florestas clareia ainda mais as vistas: a percepção de cores e volumes torna-se mais sensível, fazendo da experiência uma imersão sensível em matas e selvas de tantas dimensões.
Oferendas para os Orixás também acontecem com frequência no calendário da Kayman: é importante presentear a natureza, a mãe Terra em todas as suas expressões. Na beira de rios, nascentes d´água doce e cachoeiras… atabaques e Daime e mel e folhas chamam Oxum - e seu açucarado amor por nós - a ocupar os corpos que querem aprender a ser dengo.
Para a Iemanjá mãe dos mares, a oferenda chega pela água salgada. Orações cantadas em meio ao oceano por um grupo que se faz âncora de mundo justamente por ser livre e diverso: Viva, Jesus! Hinários do Cruzeirinho, legados da Ayahuasca, são repetidos para lembrar que toda a humanidade é na verdade um mesmo barco.
Noites de cantos e passos ritmados marcam os rituais de Hinários do Pai João, o padrinho-mentor de tantos irmãos que, mesmo com suas diferenças, procuram na simplicidade dos caminhos o que os une. São horas para repetir suas palavras recebidas em mirações, seus aprendizados e suas ideias. Presente da natureza é escolher compartilhar e a Fraternidade Kayman dissemina essas letras e vontades por onde passa, fazendo de viagens uma extensão do amor pelo mapa do Brasil.
E na família que tem nome de Encantado, cada dia chega um ser-estrela, uma canção-floresta, uma Bíblia-(en)canto. Tradição é ensinamento bem-vindo e mutante, como tudo que passa por cabeças e ventres de deuses e humanos. Incorporar outros tempos é desafio, mas também é verdade presente que não cala em quem se faz sensível… é preciso ser outras vozes para que a vida não cale.
“A melhor forma de acreditar em Deus,
é acreditando em você"
Pai João de Aruanda
Entrevistas
Adriano Bitaraēs
04:57
ritual
Fraternidade Kayman (Ritual 1)
48:18
ritual
Fraternidade Kayman (Ritual 2)
32:42
ritual
Fraternidade Kayman ▲ Ritual III
15:53
ritual
Fraternidade Kayman ▲ Ritual IIII
34:24
ritual
Fraternidade Kayman ▲ Ritual IIIII
35:48
outtake
Fraternidade Kayman Outtake (O Barco)
19:29
outtake
Fraternidade Kayman Outtake (O Feitio)
06:14