Folia de Reis Santa Marta
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Folia de Reis Penitentes de Santa Marta. Mestre Riquinho. Mestre palhaço Ronaldo. Favela de Santa Marta. Rio de Janeiro. 25 de dezembro
Folia de Reis Santa Marta
Mirra, incenso e ouro: esses foram os presentes que os três Reis Magos do Oriente levaram para o menino Jesus Cristo quando o encontraram em sua manjedoura, caminho feito seguindo o brilho de uma estrela que iluminava os céus. De história, virou Folia em terras portuguesas, chegou como festas de fé no Brasil.
"Hoje pra mim é um dia de alegria
Estou brincando na tua casa
Com a minha folia."
Mestre palhaço Ronaldo
Foi no século XVIII que começaram as primeiras Folias de Reis no país e esses Reisados ainda desfilam por cidades dos estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás, Espírito Santo, Paraná e Rio de Janeiro. Em grupos, os foliões saem vestidos da cor de seus santos de devoção, com suas violas e instrumentos musicais que formam uma verdadeira orquestra com flautas, clarinetes, tambores e tudo o mais que encontrem em casa e nos caminhos. Juntos, vão a repetir ladainhas cantadas de porta em porta por sua vizinhança.
Normalmente, essas andanças vão do final do mês de dezembro e até o início de janeiro. No Rio de Janeiro, as celebrações se estendem um pouco mais, vão até o dia 20 de janeiro que é a data do padroeiro da cidade, São Sebastião. A cantoria em louvor aos Santos e ao menino Jesus é um argumento poético de interação: permissão para adentrar em casas de conhecidos, ver um pouco de suas vidas, conhecer as suas famílias. É quando o sagrado e o profano se encontram junto ao encontro de pessoas, diante da porta de suas casas: palhaços e reis e santos em qualquer alpendre de Brasis.
E as saídas dos Penitentes de Santa Marta possuem uma característica que só é possível nesses locais de geografias espontâneas: são procissões verticais. É um sobe-e-desce pelas ladeiras de uma das mais conhecidas favelas da cidade maravilhosa. Mais um dos tantos assentamentos urbanos informais com alta densidade populacional no Brasil, a Santa Marta é uma aglomeração situada em um morro de mesmo nome: local pra onde uma devota levou a imagem da Santa que, segundo fiéis da comunidade, tudo vê e ilumina por lá. A Penitentes começou na Ilha do Governador e subiu o morro quando o seu mestre do local, Zé Cândido, faleceu. Em Santa Marta, resiste há mais de 70 anos e esteve sob a batuta do Mestre Zé Diniz e agora é cuidado pelo filho desse, Mestre Riquinho.
"Eu não posso deixar o nome dessa folia cair.”
Mestre Riquinho Folia
Como em muitos lugares de Brasil, resistência e poesia se aprendem em casa, é lição de família. Um carrega a bandeira e puxa as toadas de cantorias, o outro é a leveza e espontaneidade porta-a-porta. Porque se festa de Santo é coisa séria e andança de Reis é algo a ser feito com cuidado, de dureza basta o cotidiano: nada é mais sagrado do que uma boa brincadeira.