Terreiro de Mina Dom Miguel

28min22

Tambor de Mina. Louvação aos Orixás, Voduns e Encantados. Pai Lindomar Saraiva Barros. Terreiro de Mina Dom Miguel. São Luís. Maranhão. Terreiro fundado há mais de 23 anos

Terreiro de Mina Dom Miguel

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Tambor de Mina. Louvação aos Orixás, Voduns e Encantados. Pai Lindomar Saraiva Barros. Terreiro de Mina Dom Miguel. São Luís. Maranhão. Terreiro fundado há mais de 23 anos

Álbum

Tambor de Mina

Giram-giram-giram no sentido oposto ao relógio porque o tempo cronológico, como ensinam nas escolas, não faz sentido para quem percebe que a vida se dá a partir de encontros entre espaços e tempos. São os reis europeus, cristãos, turcos, judeus, ciganos, indígenas, botos. Eles chegam de todos os lugares enquanto o tambor, de Mina, toca a energia que veio de São Jorge da Mina: de homens escravizados que chegaram do  além-mar de Gana, Togo, Benin e Nigéria. Rodando, firmam o transe e tomam a posse dos seus filhos para participar da festa.

"Boi Esperança é um rei da Itália

coroado nas ondas do mar"

Canção de louvação a um rei bandeirante

Para essa celebração, são recebidas principalmente quatro tipo de entidades: voduns e orixás, gentis ou fidalgos, caboclos, tosossis e minas. Os voduns mais conhecidos são Doú, Averequete, Badé, Sobô, Euá e Abê. Os orixás mais cultuados são Ogum, Oxossi, Xangô, Iansã, Nanã e Iemanjá. Dos fidalgos: Dom João, Dom Luís, Rei Sebastião, Dom Pedro Angaço, Rainha Dina, Rainha Rosa, Vandereji, Rei da Turquia e Légua Boji (a entidade do Terecô de Codó). Os dois últimos trazem consigo grandes famílias caboclas, por isso são também considerados Encantados da Mata ou Caboclos.

Muito mais do que uma dança, essa é uma importante religião afro-brasileira que surgiu no Maranhão no final do século XVIII e se estruturou em duas casas matrizes: a Casa das Minas Jeje (consagrada ao vodum Zomadonu) e a Casa de Nagô (consagrada a Xangô). Em seus rituais, os voduns são superiores e tudo começa ou termina com eles, mas quando os toques e cantos mudam significa que foi aberto um espaço para que as outras entidades sejam homenageadas.

"O católico reza, o evangélico ora.

Nós cantamos, dançamos e tocamos"

Pai Lindomar

A complexidade da liturgia é o que marca a riqueza desse culto de fé. Os instrumentos, os trajes, os comportamentos das entidades, e os cantos que alternam: jeje, nagô, doutrinas em português e ladainhas em latim. Suas cerimônias são discretas e é nos detalhes que é possível compreendê-las. No mesmo terreiro, a festa é Yorubá, Ewe-Fon, Fanti-Ashanti, Ketu, Agrono, Cambinda, Indígena, Europeia. Não dá para desvincular o Tambor de Mina do Catolicismo popular, do folclore local ou da Encantaria: mas também não é possível dizer que é tudo a mesma coisa.

São quase cinco mil terreiros e dezenove casas de Tambor de Mina Nagô com incorporação de Orixás no Maranhão, o estado brasileiro que faz divisa entre as regiões Nordeste e Norte do país e com população total de sete milhões de habitantes. Com dezoito anos de idade, Lindomar Saraiva, filho de Xangô, abriu o Terreiro de Mina Dom Miguel onde hoje, com quarenta anos, é o sacerdote chefe: Babalorixá ou vodunon, já que ali ele pratica tanto o Candomblé quanto o Tambor de Mina.

É ele quem puxa os cantos durante a cerimônia de Louvação aos Orixás, Voduns e Encantados. Vestindo as roupas da família de bandeirantes, com Brasil e Itália estampados nos mesmos tecidos, o povo de seu terreiro faz a festa para homenagear Légua e todos os seus filhos ribeirinhos, trabalhadores, gente simples do interior e da lida com a natureza.

"Quando falam do sincretismo, eu fecho os olhos e vejo a escravidão.

Eu me lembro dos senhores passando e recriminando os negros"

Pai Lindomar

Com seus chapéus de couro, o povo extrovertido e brincalhão dessa entidade chega para fazer daquele terreiro uma paisagem de estrada de interior do Maranhão: os mitos esboçam uma outra geografia enquanto rodam. E renascem quando encantam, assim continuam uma história que transborda o que é vida ou morte, terra ou céu: o Sagrado é cotidiano na comida que se come, na água que se bebe. A fé é uma trama costurada por vários fios de energia que se encontram para se alimentar.

Entrevistas

Babalorixá Lindomar

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