Igreja da Libertação

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Cerimônia Lava-Pés. Igreja da Libertação. Goiás Velho.

Igreja da Libertação

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Cerimônia Lava-Pés. Igreja da Libertação. Goiás Velho.

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Igreja da Libertação

 

Lembrete de humildade: lavar os pés de quem está por perto e muitas vezes é aquele com a responsabilidade de servir. Simplicidade que escorre em águas tantas desde que Jesus fez o ritual durante a Última Ceia com os doze homens de sua Igreja Católica Apostólica Romana.

Leitura do Evangelho, encenação da passagem bíblica. Come-se o pão e o vinho enquanto todos cantam refrões de fé ao homem que entregou a sua vida para a salvação da humanidade. O encontro parece mesmo mais uma missa em quinta-feira de Semana Santa no interior do Brasil, celebração da vida, morte e ressurreição do Cristo.

Mas um som revela aos sensíveis e atentos que há algo novo nessa celebração: um atabaque, instrumento musical presente em rituais afrodescendentes como em Candomblé e Umbanda, retumba pelas mãos de quem conduz a cerimônia. A comunhão parece ser mais autônoma... cada um escolhe seu pedaço de pão em um cesto e o mergulha em vinho… se alimentando de uma fé algo semelhante, algo diferente.

“Como anunciar a morte e ressurreição de Jesus a indígenas que estão sendo exterminados?
Como anunciar a Boa Nova da Salvação às populações exploradas?”

Questões fundadoras da Teoria da Libertação na América Latina, formuladas por Leonardo Boff

O século XX foi conturbado para a tradicional Igreja Católica também na América Latina: um movimento apartidário, mas político, surgiu apresentando a dualidade mundo proletário / mundo burguês como mais central para a fé do que a milenar divisão entre mundo terreno / mundo espiritual. A Teologia da Libertação nasceu na década de 60 com base na realidade da pobreza e da exclusão e não na realidade eclesiástica.

Com cultos ecumênicos e convivência de várias correntes de pensamento, a Teologia propõe renovações para o Catolicismo e interpreta os ensinamentos de Jesus como libertadores de injustiças sociais, econômicas e políticas. Absorvendo ensinamentos da Umbanda, do Xamanismo e o do Islamismo, a nova ciência da fé incomodou - e ainda incomoda - muito principalmente pelas vozes e textos do padre peruano Gustavo Gutiérrez, do brasileiro Leonardo Boff e do uruguaio Juan Luis Segundo.

Mas para quê direcionar os estudos de uma procissão de fé na análise da realidade social? Pois, para transformar essa mesma realidade. Para a Libertação, a função de um igreja em países periféricos precisa ser libertar as pessoas de tantas injustiças mesmo em vida. O Cristianismo, nessa medida, deveria ser interpretado de forma analítica e antropológica, para que os mecanismos de opressão sejam descobertos e combatidos.

Uma religião fundada em uma visão eurocêntrica de mundo deve, para os adeptos, ser revista e afastada de uma percepção de neutralidade social. E assim, a salvação proposta por Cristo só é total se incluir igualdade de direitos.

“Glória a Deus no mais alto dos céus,

Mas também paz na Terra.”

Louvação em celebração de Lava Pés em Igreja da Libertação na cidade de Goiás Velho

Aos teólogos da libertação, muitos chamam marxistas e hereges. Seus principais líderes, incluindo o brasileiro Boff, foram recriminados pelo Vaticano por deturpar a Igreja Católica. Talvez até porque a fé militante extrapolou fronteiras do Sul e conquistou vários adeptos e estudiosos em todo o mundo, principalmente nas academias.

Condenada pelos mais rígidos, celebrada por aqueles que buscam instrumentos para a renovação e aproximação de mundos. Se são poucas hoje as cerimônias e praticantes de uma teologia que não conseguiu formar novos líderes e espaços, a Libertação fica cristalizada em ciência: são centenas os livros publicados por aqueles que se dedicaram a registrar um novo ensaio de fé, uma releitura dos ditos e feitos de um homem que insistia em andar o mundo a falar de amor.

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