Bumba Meu Boi Unidos de Santa Fé

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Bumba-Meu-Boi Unidos de Santa Fé. Zé Olhinho. São Luís. Maranhão. Desde o século XVIII. Mais de 100 grupos na cidade de São Luís

Bumba Meu Boi Unidos de Santa Fé

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Bumba-Meu-Boi Unidos de Santa Fé. Zé Olhinho. São Luís. Maranhão. Desde o século XVIII. Mais de 100 grupos na cidade de São Luís

Álbum

Bumba-Meu-Boi Unidos de Santa Fé

Na cabeça, levam São Jorge ou Iemanjá ou a figura de um boi encantado. Nas abas desses chapéus, seu nome vai bordado para que de longe reconheçam o capitão que vai entoar a cantoria. Antes de ir para as ruas, as mãos se unem em oração católica ao santo de sua devoção. Depois, seguram firme os pandeirões que irão conduzir a batida de toda uma madrugada. Feitos de couro de cabra, esses instrumentos são afinados no contato com o fogo: a pele é esticada para que dê conta de todo o caminho. Do anoitecer ao amanhecer, são muitas as paradas de um ônibus que anda pela cidade do Nordeste em meses de comemorações a São João no Brasil, fazendo das ruas uma página de fantasia.

“Sou Santa Fé

Eu sou eu sou

Santa Fé

Eu sei que sou"

Toada cantada durante festejos do Bumba-meu-boi em São Luís do Maranhão

São Luís, a única cidade brasileira fundada por franceses e com fachadas em azulejos de muitos cantos do mundo, é conhecida por ter uma das principais concentrações de brincantes do país: mulheres e homens festeiros que se permitem, pelo menos durante um momento, agir como um ser fantástico e misterioso que tem alguma relação com o invisível. É que a capital do estado do Maranhão celebra diversos folguedos, cortejos e rituais: brasileiros ali brincam de ancestrais africanos, histórias europeias e encantados indígenas.

“Ê boi!”

Saudação ao Bumba-meu-boi

Entre elas, o caso de um boi que ressuscitou graças a rezas de curandeiros. Dizem que aconteceu no estado de Pernambuco, outros contam que foi no Norte do Brasil. A negra escravizada Catirina estava grávida e desejou comer língua de boi, foi ouvir o pedido e seu marido Francisco (que em alguns lugares é chamado também Mateus) sacrificou o animal para atender ao pedido da esposa. Inconformado com a morte do bicho, o dono da fazenda mandou prender o Chico e chamou benzedeiros para trazer de novo o boi à vida.

A celebração é como uma encenação completa, todos os personagens vão para as ruas para representar a história. O dono da fazenda, Catirina, Chico, vaqueiros, índios e caboclos: todos eles dançam e cantam em torno do boi. No comando da história cantada, o capitão. É ele quem puxa as toadas e coordena os instrumentos. Pelas ruas, vão escrevendo no ar as narrativas do povo simples da região: sabedoria musicada, patrimônio imaterial do Brasil.

“Ê, povo brasileiro

Repara que o tempo mudou

Tem lugar que chove muito

E outro que a seca rasgou"

Toada cantada pelo capitão Zé Olhinho durante os festejos do Bumba-meu-boi

Em São Luís são mais de 100 grupos diferentes de Bumba-meu-boi e cada um tem seu sotaque: seu jeito próprio de contar a história através de danças e canções. Em 1965, Zé Olhinho começou a brincar o boi e hoje é um dos nove que cantam à frente nas apresentações do Bumba-Meu-Boi Unidos de Santa Fé. Pra ele, as noites de saída são sim brincadeira, mas também responsabilidade e doação. Cada elemento tem um papel importante para a história e a cadência precisa ser muito bem cuidada.

“A gente tem no sangue isso de brincar o boi"

Capitão Zé Olhinho

Entre os dias 28 e 29 de julho, a noite é especial: é quando a festa fica tão bonita que toda labuta para fazer roupas e instrumentos vale a mágica. A encenação da morte do boi é assistida por vizinhos às portas de suas casas, por turistas e por cada vez mais pesquisadores. No Maranhão e em diversos outros cantos do país: é fé, é festa, é arte, é terapia; e tudo aumenta a cada nova presença na roda. Nos olhares de encantamento, no bater palmas: trabalhadores simples, pescadores, homens e mulheres das roças… brasileiros comuns que entendem que suas histórias também são sagradas.

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