Bom Jesus da Lapa

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Romaria a Bom Jesus da Lapa. Catolicismo. Bom Jesus da Lapa. Bahia. 01 de agosto. Desde o século XVII. 700 mil romeiros por ano

Bom Jesus da Lapa

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Romaria a Bom Jesus da Lapa. Catolicismo. Bom Jesus da Lapa. Bahia. 01 de agosto. Desde o século XVII. 700 mil romeiros por ano

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Romaria a Bom Jesus da Lapa

Mais de setecentos quilômetros sertões adentro, um homem anda sozinho levando nos braços duas imagens e muita esperança: o Senhor Bom Jesus e Nossa Senhora da Soledade hão de iluminar o seu caminho. Seguindo as margens de outro santo, o Rio São Francisco, ele busca uma nova história para a sua vida. De tanto procurar, encontra um horizonte impressionante formado por um monte com noventa metros de altura e nove grutas onde onças se abrigavam: faz morada em aldeia indígena do povo Tapuia, em meio a rochas tão tangíveis quanto a sua fé.

“Nada nos barra quando a fé nos leva”

Sacerdote em Bom Jesus da Lapa

Isso foi no século XVII e Francisco de Mendonça Mar é o nome desse andarilho que nasceu em Lisboa e foi o único da família de ourives que decidiu aportar do outro lado do Atlântico. Instalou uma oficina em Salvador onde bem rápido ficou conhecido como pintor e artista dos bons. Essa fama trouxe o convite: pintar o Palácio do Governador Geral do Brasil em Salvador a pedido do próprio morador, o governante Matias da Cunha. O serviço foi entregue com esmero, mas como pagamento ele recebeu uma ordem de prisão. Só uma carta ao então Rei de Portugal trouxe a sua liberdade. Daí para a gruta onde passou a construir a sua vida de sacerdote ermitão, ele levou mesmo só o Bom Jesus e a Senhora da Soledade… mas nunca mais esse português com resistência de sertanejo ficou sozinho.

“Quem é que vai?

Quem é que vai?

Quem é que vai nessa marcha de Jesus?

Quem é que vai?”

Canção de louvação durante a romaria

Ainda que tenha escolhido a mais oculta das brechas para morar, a luz de suas velas e a força das suas orações chamavam a atenção. Era tempos de garimpeiros saindo do Nordeste em direção ao ouro das Minas Gerais. Os viajantes passavam para conhecê-lo, os doentes e pobres recebiam abrigo. Com o beber a água que escapa entre as rochas na gruta, muitas curas e milagres também brotaram nessa história. De tanta gente chegando, ao redor da gruta surgiu uma vila que hoje é a Capital da Fé da Bahia.

Em Bom Jesus da Lapa, cerca de 700 mil romeiros chegam a cada ano para repetir os caminhos de Francisco Mar: o padre que morreu aos 65 anos de uma vida devota ao povo simples e, como ele próprio foi, peregrino. Da Bahia e de todo o Brasil, de carona ou a pé ou de ônibus, são muitas visitas à gruta que é hoje Santuário do Bom Jesus. Trajetos que fazem parte da formação das crianças em famílias católicas, cenário que está no imaginário do brasileiro que tem algo a agradecer.

“Na primeira vez, eu vim com meus pais e foi uma viagem muito gostosa,

a gente vinha comendo rapadura com farinha”

Romeira em Bom Jesus da Lapa

De 28 de julho a 06 de agosto de cada ano, acontece ali uma das principais romarias do Brasil. São cerca de dez dias de peregrinações pela região, missas e pagação de promessas em agradecimento ao Bom Jesus da Lapa. Os romeiros repetem os gestos do padre Francisco que se reunia na gruta a fazer horas de orações com indígenas, quilombolas e viajantes: o Santuário revive as épocas de ladainhas e suas paredes e águas são celebradas como elementos mágicos e sagrados para esse povo cristão.

O momento é muito especial, de boa energia e gratidão. Nessas datas chegam muitos romeiros da região Sul da Bahia: seus chapéus, roupas estampadas e sorriso no olhar dão uma aula de composição. Mesmo quando chegam iluminados pelo sol pagando promessas de joelhos ou carregando os ex-votos que significam que um pedido foi alcançado, eles usam a cantoria e linguagem cotidiana para agradecer. Pelos cantos do Santuário e pelos trajetos do caminhar, conversam com os santos católicos como se falassem entre si, sentem-se próximos e acolhidos nessa relação de identificação pela simplicidade.

Mãos aos altos, palmas, berrantes. As lágrimas que jorram dos olhos lembram a água sagrada das paredes da gruta, o rio que passa ao lado também com vontade de esperança. Águas pingadas que parecem o suor salgado de tantos Franciscos que não desistiram de ver e ser inspiração: gota a gota, assim se faz o caminhar desse povo sertanejo no Brasil.

“Te amarei, Senhor!

Te amarei, Senhor!

Eu só encontro a paz e a alegria bem perto de ti.”

Canção de louvação durante missa

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